segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A criança winnicottiana (1)

Ao se pensar na criança é importante também pensar no ambiente pela qual está inserida. Para o autor, o ser humano é essencialmente social e vinculado ao ambiente. A base da construção da personalidade se faz perante estudo pormenorizado da relação mãe-filho, influências da família e do ambiente.
Há uma interação em relação ao desenvolvimento emocional primitivo do bebê  e a presença de um ambiente facilitador, para que este desenvolvimento ocorra bem. O percurso vai desde uma fase de dependência absoluta até uma independência total da criança. São três as etapas.

Na primeira, dependência absoluta, a criança se mostra fusionada com o ambiente e não se dá conta de sua dependência, embora ainda absoluta e total. Corresponde a um estado fusional tal que, em uma reunião na Sociedade Britânica de Psicanálise, Winnicott proferiu: "Não existe uma coisa como um bebê (...); se você me mostrou um bebê, você certamente me mostra alguém cuidando do bebê". O sentimento que resulta desta fusão com a mãe é a continuidade do ser.

No entanto este sentimento só se tornará possível sob os cuidados de uma mãe suficientemente boa que possibilite um manejo materno que garanta os afetos e cuidados com uma sensibilidade especial ao bebê. Com este empréstimo do ego da mãe, ele vai se adaptando às necessidades. O que dá início ao processo de elaboração psíquica das funções corporais no próprio ritmo da criança.

Sobre esta fase, Winnicott profere outra frase marcante: "A criança cria o seio e ela deve estar lá onde foi criado". A mãe é que mantém essa onipotência necessária neste período, quando a criança é o seio. De acordo com o desenvolvimento do ego deste bebê, a mãe o ajuda lidar com sua incompletude e, gradualmente, o desiludindo. Para o autor, a mãe saudável (suficientemente boa), sempre sabe e sente as necessidades do seu bebê, o que lhe possibilita condições necessárias para suportar certas etapas.

Quando esta criança é atendida por uma mãe que não é suficientemente boa e/ou um ambiente que não proporcione essa sustenção necessária ao bebê , principalmente nesta fase em que não existe o não-eu, esses fracassos são sentidos como ameaças à existência e "as angústias que os acompanham são impensáveis", segundo Neto, em artigo sobre o autor.  Neto também coloca que tais angústias podem promover no bebê sensações de queda livre, desintegração, perda da unidade e até mesmo a perda da capacidade de relação objetal - como o autismo e poderosas defesas contra a incompletude - como no caso da inveja patológica.


* referência bibliográfica: Constituição do si-mesmo e Transicionalidade. Orestes Forlenza Neto. Revista Mente e Cérebro: Memória da Psicanálise, número 5, 2009.

Um comentário:

  1. Carambaaa!
    Será que sou uma mãe "suficientemente boa", ou melhor "será que fui"?...já que Manu não é mais um bebê...
    :/
    Adorei o bloguitcho.
    Bic´s.

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