Talvez esteja batendo na mesma tecla. Mas a teoria de Winnicott é tão lindamente elaborada, que é tecida aos poucos e tudo tem uma conexão, um início, meio e fim e um começo novamente. Por isso, escrever em miúdos, ou seja, explanando suas teorias aos poucos não seria o ideal pois perde-se um pouco o fio da meada. Mas como aqui é a única maneira, vamos trocar em miúdos que fica fácil de ser digerido e elaborado.
Bem, o que acho mais fantástico e brilhante na obra de Winnicott é essa possibilidade que ele coloca em relação ao sofrimento humano. Para ele, todo aquele que não pode ter uma vida criadora, está condenado ao sofrimento.
A capacidade de criar-se, do movimento de criação é o que dita se um sujeito está numa verdadeira normalidade. O fundamental é ter uma vida que permita haver espaço para o gesto criador. Caso este gesto não seja suprido, há a possibilidade de se psicotizar. Para Winnicott, o que o ser humano busca é o encontro - que é criador. Essa tal criação que o autor aponta não é artística no sentido de ser um "artista". Mas no próprio cotidiano, já que para ele, ser criador é sentir-se vivo enquanto ser humano, que nos faz sentir reais.
O ponto não é se aceito a realidade, mas se me sinto real com ela. Quando isso não ocorre, há o estabelecimento do falso self. Uma "máscara" que o indivíduo utiliza como defesa. Uma defesa psicótica e que assume uma personalidade para o mundo, mas que na realidade não tem existência. O falso self é aquela pessoa aparentemente muito intelectualizada e inteligente. Geralmente segura a pessoa pelo intelecto e boa adaptação das regras, mas à qualquer momento pode ter um colapso, principalmente quando se está na vida adulta.
Quando perto de um indivíduo com falso self não se dá conta do que se passa em sua interioridade. Há um vazio grande pelo gesto onipotente que a mãe não soube oferecer. Por isso a submissão plena nesses indivíduos. Quando bebês submeteram-se a serem o que achavam que a mãe queria que fossem. Para Winnicott a submissão é um enorme problema, pois é o oposto da autenticidade. Quanto mais cedo a submissão, pior o prognóstico.
A psicose sempre será a tentativa de não viver a experiência infernal. Experiência essa insuportável e de forte agonia. Segundo o autor, um bebê que não sente-se cuidado vive essa dor e a psicose o livra disso.