Como um assunto vastíssimo e de suma importância para a compreensão geral do inconsciente, dar-se-á continuidade à Interpretação dos Sonhos.
Freud colocou que quanto mais rigorosa for a censura, mais amplo será o disfarce dos sonhos e mais trabalhoso o será para o rastreamento de seu verdadeiro sentido. A censura seria uma defesa entre duas instâncias: o consciente e o inconsciente. Essa defesa atuaria "permitindo" ou não que certos conteúdos tenham acesso ao inconsciente. Quando interpretamos os sonhos, a censura vai se tornando menos rigorosa e mais nítido os conteúdos ao sonhador.
Há três importantes peculiaridades interessantes pontuadas por Freud: Primeiramente, os sonhos mostram clara preferência pelas impressões dos dias imediatamente anteriores. Também fazem sua escolha com base em diferentes princípios de nossa memória, já que não relembram o essencial, mas sim, o despercebido. E, por fim, têm à disposição as impressões mais primitivas de nossa infância e até fazem surgir detalhes desse período que nos pareciam caídos no esquecimento.
Freud ressalta que os sonhos podem selecionar o material de qualquer parte da vida do sonhador, contanto que haja uma linha de pensamento que ligue a experiência do dia do sonho com as mais antigas. Embora o conteúdo aparente (chamado por Freud de manifesto) só faça alusão à impressões irrelevantes e detalhes sem importância, o que realmente ocorre é o inverso: "nossos pensamentos oníricos são dominados pelo mesmo material que nos ocupa durante o dia e só nos damos ao trabalho de sonhar com coisas que nos deram motivo para reflexão durante o dia." (p. 184)
É o ato psíquico da censura que faz essa distorção onírica, que seria nomeada de deslocamento. Ou seja, uma forma de se adquirir força suficiente para que o conteúdo entre na consciência. O deslocamento substitui o material psiquicamente importante por um material irrelevante - tanto nos sonhos como no pensamento - já ocorrido, no caso, em períodos primitivos da vida que se fixaram na memória. Estes elementos que eram irrelevantes não serão mais a partir do momento que assumirem o deslocamento.
Freud conclui essa parte ao dizer que não há sonhos "inocentes", à não ser o das crianças e complementa: "os sonhos nunca dizem respeito a trivialidades: não permitimos que nosso sono seja perturbado por tolices". (p. 191). Os sonhos seriam, portanto, como lobos em pele de cordeiro.
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