quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A criança winnicottiana (2)

Dando continuidade a esta série sobre o desenvolvimento da personalidade nas crianças segundo Winnicott, é importante ressaltar que o autor desvendou uma importante patologia: o falso self. Quando não se chega aos extremos quanto aos fracassos ambientais e suas consequentes angústias, como exposto no post anterior, a criança pode tentar suprir a falta "criando-a" artificialmente. O falso self não pode fazer o sujeito sair do mundo irreal em que vive e, por ter origem na falha ambiental, não é do sujeito, mas sim, reativo. Este é um conceito bastante importante e muito comum na clínica. Por isso, merece um post só pra ele. Enquanto isso segue-se as fases do desenvolvimento, que depois da dependência absoluta, vem a dependência relativa.

Esta fase aparece quando a criança já consegue começar a se diferenciar do outro, sabendo que precisa dele. Começa a pedir, consegue receber e percebe que recebeu - isso, claro, numa criança inserida em ambiente bom e saudável. É então que surgem o eu e o não-eu, com a afirmação eu sou – e o reconhecimento dos seres com um interior e um exterior. É o início do conceito de identidade. Um sentir-se real.

Esta sensação é mais do que existir, é encontrar o próprio caminho da existência. A mãe suficientemente boa dá este espaço para o bebê, pois segundo Neto (2009) "(...) consegue captar as peculiaridades de seu ser em movimento e respeitá-las. Não se confunde com o bebê, não impõe seu gesto, empresta seu sonhar para que a individualidade se constitua".

Na realidade, a criança já começa a captar com mais nitidez sua necessidade de desenvolvimento, o que a faz pedir e receber respostas educativas. Quando não atendida, pode chegar a desenvolver uma personalidade borderline. Mas quando tudo acontece de forma boa e saudável chega-se à fase de rumo à independência.

Winnicott coloca que por mais saudável que seja uma pessoa, há situações em que ela ‘sai’, transita em estados de psicose. Por exemplo, se passamos por um acidente grave, ou adoentamos e vamos parar numa UTI, essas situações são potencias para se ter surtos psicóticos transitórios. Pois os traumas são muito fortes e impactantes. Para o autor, o potencial para psicotizar nunca é nulo.

Um bebê na fase de dependência absoluta vai precisar passar por uma “loucura onipotente”, pois esta é uma experiência que evitará a psicose de fato. A sensação de ser Deus, criador do sei que oferta o leite, experiências desconfortantes e carências que são prontamente banidas “magicamente”. A fome e o encontro com o seio é exemplo disso. A pessoa é fome e, depois, a pessoa é paraíso. Para o bebê é sempre e nunca.

Assim sendo, o único jeito de não ser psicótico é poder ter sido “louco”. Que por sua vez, só pode o ser, se tem alguém cuidando e criando o bebê – alguém que venha de encontro e faça essa “mágica”.

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